21/02/2024 às 10:29:54 | Por: Jimenes Comunicação
José Carlos Souto, médico e autor do best-seller (Divulgação)
Quando o assunto é sobrepeso e obesidade, o foco de grande parte das pessoas, inclusive de especialistas da saúde e nutrição, volta-se quase que exclusivamente para o balanço calórico. Muito embora o déficit calórico seja uma condição necessária para que haja emagrecimento, as reais causas do ganho de peso são mais complexas.
Médico referência em low-carb no Brasil, autor do livro “Uma dieta além da moda - uma abordagem científica para a perda de peso e a manutenção da saúde”, José Carlos Souto destaca que o fato de um maior consumo calórico estar associado ao ganho de peso não significa que ele seja sua única causa. “O crescimento de uma criança ou a gestação também são situações em que se consomem mais calorias do que se gasta, mas nem por isso alguém diria que comer calorias a mais é a causa dessas condições”, explica.
Conforme Souto, o acúmulo de gordura (ou sua liberação pelo tecido adiposo) é um processo altamente regulado, no qual atuam diversos mediadores químicos e hormônios, sendo o principal deles a insulina. “Grosso modo, a insulina, em níveis elevados, favorece o armazenamento de gordura no organismo e, em níveis mais baixos, estimula a saída dos ácidos graxos da célula”, explica.
Isto é importante, enfatiza Souto, porque tanto a gordura quanto a glicose podem ser usadas como fonte de energia por quase todas as células do corpo. Quando ingerimos alimentos ricos em glicose, a gordura corporal armazenada é pouco utilizada, já que a glicose é usada como fonte de energia prioritária. Por outro lado, com a redução do consumo de carboidratos, que produz relativa escassez de glicose, a gordura do corpo passa a ser liberada, favorecendo o emagrecimento.
De acordo com Souto, compreender a importância dos hormônios faz com que cheguemos a conclusão de que calorias não são todas iguais em seus efeitos biológicos. O médico afirma que calorias são unidades de medida e que elas por si só não têm a capacidade de “comandar” o organismo a respeito do armazenamento ou não da gordura do corpo. Para isso, existem os hormônios, que, por sua vez, são estimulados pelos alimentos. “Diferentes alimentos têm diferentes efeitos hormonais (endócrinos). E não são as calorias que determinam esses níveis hormonais. Conforme o médico, a composição dos alimentos que ingerimos é crucial, basta lembrar que a insulina responde mais à elevação de glicose, que, por sua vez, é encontrada em abundância em alimentos ricos em carboidratos.
Contudo, Souto ressalta que a hipótese carboidrato-insulina explica parcialmente as causas do ganho de peso, mas é incompleta. Segundo esta teoria, bastaria uma alimentação ser pobre em carboidratos para que houvesse o emagrecimento, independentemente das calorias. Mas sabemos que isso não é verdade, afinal, dietas com restrição de calorias emagrecem, mesmo que sejam ricas em carboidratos – bem verdade que provocando fome.
Além disso, afirma o médico, se a hipótese estivesse 100% correta, uma dieta rica em proteínas deveria prejudicar o emagrecimento, haja vista que elas também elevam a insulina. "Mas não é isso o que acontece: diversos estudos científicos já mostraram que o consumo aumentado de proteínas está associado à perda de peso", diz. Assim, o efeito dos alimentos sobre a insulina é apenas uma parte de um quebra-cabeça maior que ajuda a explicar por que uma dieta low-carb é tão eficiente para a perda de peso – tema central do livro Uma Dieta Além da Moda.
Assim, finaliza Souto, as pessoas que desejam emagrecer deveriam evitar a todo custo passar fome, como ocorre das dietas focadas na contagem de calorias. "A fome é o cemitério das dietas", afirma. Nesse sentido, ressalta o médico, a estratégia alimentar low-carb é muito mais interessante. "Isto porque, quando bem formulada, produz maior saciedade, reduzindo espontaneamente a ingestão calórica. Calorias contam, mas você não deveria ter de contá-las", conclui.
Sobre o autor José Carlos Souto
Nascido em Porto Alegre, é médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É urologista, mestre em Patologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e fellow em Patologia Experimental pela Universidade do Alabama, em Birmingham, EUA. Em 2011, seu especial interesse pela interface entre nutrição e saúde o levou a criar um blog sobre dietas com baixo teor de carboidratos que se tornou o maior do gênero no Brasil. Sua capacidade de comunicar temas técnicos para o público o tornou conhecido nas redes sociais. Com mais de 500 postagens nas quais se discutem ensaios clínicos e evidências, o blog já teve mais de 25 milhões de visualizações.
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